terça-feira, julho 29, 2008

ser loucura ser reflexo

o filme foi uma ótima pedida de última hora [vou abrir uma skol lemon pra experimentar enquanto detalho]. ressalva importante no princípio: o áudio deixou tanto a desejar que seria mais pertinente a legenda em português. a leitura labial foi ineficiente. meu inglês perneta foi meu guia nestes 80 minutos onde a fotografia gritava bem mais do que o silêncio [sabia que paralelos seriam prováveis. diversos].
a personagem da abertura é a personificação do enredo. uma 'figura' loira descabelada divertidíssima perturbada e teatral. num pé havaianas noutro rider a bater lata entre as pedras do caminho entre um chute e outro de distração. a cruz de cada dia nas costas com roupas lavadas em terra batida. água é tudo igual água: suja vermelha de beber roxa pra se lavar preta para regar as plantas do solo de ninguém em teu nome. imagens paradas em movimento. tudo é espelho: rio asfalto a vida rasgada em papel único. um silêncio aflitivo dos retratos. kilometragem farta a 40º nas estradas deste país continente com automóveis a entrar e sair do plano como peixes a saltar entre a maré baixa.
só se ouvia a voz da liberdade. suas lembranças e demônios na bagagem da solidão que pulsa nos rachados pés e pele. a loucura em sua pureza. única. de quem vive só pelo mundo. órfã distante cheia de risos próprios monólogos e a puta que o pariu. diferentemente da loucura que envolve todos nós neste convívio social prisioneiro. um horizonte longínquo das nossas loucuras mais íntimas com repertório vasto mediano. andarilhos de cajado e questionamentos hereditários e culturais em nome do pai do filho e do espírito santo. deus é number one. em qualquer lugar a admirar tudo aquilo criado pelo criador. vaca galinhas pintinhos jato reencarnação e espíritos a consumir valdemar. cachaça é cachaça! outra santidade com altar.
e a noite chega com luzes desfocadas de tempos em tempos. filho de uma égua! cigarro álcool farrapo e farol alto. cada qual com seu fardo circunstâncias casa e lona. só o senhor é deus.
[aposto que alguns dos poucos ali presentes acharam o filme chato. diria que estes são acelerados demais para navegar neste mar de terra quente abençoada a passar. faça chuva faça sol. avante]


[chico buarque - tanto mar]

*crítica do filme "Andarilho" de Cão Guimarães, escrita em 9 de outubro de 2006.

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tem uma cena 'viagem' no filme que, a meu ver, deveria ser cortada, mas não foi [rs]. sei lá quantos ácidos ou maconha consumiram. mas aquele grilo ultrapassou a licença poética. vontade de encontrar o diretor e perguntar [rs]. antes que eu me esqueça: a skol lemon deve ser melhor para fazer caipirinha de cerveja. e cachaça é cachaça. amém!
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