quinta-feira, julho 31, 2008

quero te esquecer porra!

passa passa passa
vai embora daqui
dor sem consentimento
amor inventado em terras secas

some some some
de perto de mim
não te quero aqui
quero perdê-lo de mim

longe longe longe
do que ontem via
do que hoje sinto
se afasta de mim

esquece esqueça apague
ponha um fim
neste porquê besta
que inventei pra mim

quarta-feira, julho 30, 2008

vejo flores em você

agora que resolvi desencavar meus textos e não esconder meu blog [bem diferente de divulgá-lo], sinto que devo escrever ao menos algumas linhas frescas por dia. com ou sem a companhia da inspiração. do desabafo à poesia. com vontade, sempre.
pensei em preencher com notas dos meus moleskines, mas os esqueci em casa. no pasa nada. tem coisas interesantes ali e, poco a poco, vou desnudar. vou degustar com lentidão este outro revisitar de idéias.
narrando, hoje quero continuar a falar, e finalizar com uma trilogia, sobre o assunto que mais me consumiu esta semana: trabalho. pois bem – e mal [‘a tomar por el culo’] –, as coisas parecem que começaram a caminhar por onde devem. nos reunimos, estou um pouco mais informada, tenho observações comportamentais novas e uma série de caminhos na rede para traçar, ler e estudar. isso é ótimo! o olhar trabalha com mais serenidade depois da despedida da raiva que frequentou meu começo de semana e saiu de casa com malas abarrotadas, sem deixar a escova de dente e data para voltar. melhor.
eu não sei, evidentemente, o que vai acontecer comigo em barcelona. não tenho idéia se em dezembro, como planejei, já estarei me sentindo mais confiante e no meu lugar [espero ter algum!rs] nesta oficina. na cidade, assustadora e positivamente, me senti em casa assim que cheguei. um emaranhado de informações interessantes e nuevas e eu muito à vontade, como se caminhasse entre as ruas curtas e familiares da minha cidade jardim em bh ou pela diversidade de cores cítricas brasileira da paulista. mais uma daquelas coisas sem explicação das quais tanto gosto de parafrasear.
será que fui uma princesa séculos atrás, em algum feudo rico de gente, especiarias e história? que primeiro pensamento mais romântico e infantil [rs!]. tinha que ser eu mesma escrevendo isso. certeza que algo tenho registrado sem memória no peito acolhido pelas avenidas bem projetadas deste vislumbrado pedaço de língua espanhola europeu.
o que eu fui, quantas fui, nos dias outros, voa no tempo como folhas secas de outono e, se me concentro, consigo até sentir o cheiro da primaveramãe. mas o que mais importa é que princesa eu nunca quis ser nesta vida de agora. eu adoro a alquimia do trabalhar. tenho fascinação. e o que mais quero é a oportunidade de descubrir outros talentos eternos dormidos em mim. com sol, a ver que pasa mañana, o meu hoje novo sempre por vir.

um dia de fúria, digital

preciso desinstalar este programa
eu e você
tirar da tomada
quebrar os fios e a parede
derrubar a casa
o prédio as avenidas
colocar tudo abaixo
empoeirado mas sem cinzas
quero cores vivíssimas
com a paulista intacta
só para eu passar

pro dia nascer feliz

em casa mensagem da sá. saudade dêmás piscando laranja no meu monitor. que delícia ler você falar coisas esperadas boas. também amo você e estou adorando a narrativa inicial. quero ver suas loucuras nas baladas coloridas e radioativas londrinas a esfumaçar freedom taste. que vontade de ir e que vontade de continuar aqui. duas estradas. dois enredos. contentamento.
quero conhecer o lilás dos seus dias e nova rotina. o vermelho dos desejos a escrever uma nova estória. o verde das manhãs daquela noite surreal que você acha que definitivamente é a melhor e outros verdes variáveis cintilantes efervescentes das propostas inusitadas que te flamejam os olhos quando ditas em três segundos ao acender o cigarro gold label. amarelamento d'alma. quero ouvir todas suas cores e nuances performáticas. seus passos amores dores dúvidas escolhas consequências satisfações latente viva mulher.
acabei de almoçar cogumelos naturais finos esfarelados mel escuro a gosto. comentei à mesa posta sobre a saudade reforçada da vez. das conversas inteligentes em qualquer esquina composta de assentos e cardápio vasto ou raso. dos labirintos possíveis que traçávamos a quatro mãos. das risadas e conclusões dispostas e verdadeiras de que a gente se fazia bem. de que todas as questões eram sensatas e desafiadoras. a certeza que ali aprendíamos a nos perceber permitir perdoar e avançar. você. muita falta.
quebrei um pouco o compasso, mas continuo ouvindo rock 'n roll pra aliviar as idéias. como comentei o chico me levou ao nocaute naquele sábado iluminado em azul e branco frio. mesmo assim eu insisto. eu gosto. já ouviu a música do tv on the radio que te disse? aquela excelente pra acordar e devorar o dia com pouco ânimo no fim de tarde e cinco minutos pra se oferecer às horas dispostas da noite. acabou de tocar.
vou continuar por aqui olhando as mesmas coisas para organizar nestes metros retangulares de horas e horas a fio pensando e agindo nem sempre com tanta prioridade como antes para eu não cansar de mim mesma e cantar pro dia nascer feliz puta da vida às 6h da manhã. sem pôr do sol.


[belle and sebastian - get me away from here, i'm dying]

aquele que grita em silêncio pulsa

a noite passada foi assim. solitária. com exceção de uns goles nostálgicos em boteco temático 'made in usa' conversation. batata frita caseira grossa e macia como àquelas dos meus 15 anos acompanhada de coca-cola entre os livros didáticos e brigadeiro após a ingestão das idéias rasas que nos 'vendem' com código de barra. minhas amigas adoravam ir estudar comigo [rs]. as colunas também eram de anos atrás. mais remotos ainda. da minha infância conturbada no interior de minas. da 'bela e a fera' como o próprio título da matéria sugeriu aos 11 anos em luto. mas os anos são outros. modernos até demais pro meu requintado e clássico gosto. mais perdidos com menos contexto e mais pretextos para poder extrapolar sem propósito. coca cola é isso aí! sempre gostei deste slogan pela diversidade do uso. outro querido autoral e autobiográfico: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa e uma coisa não anula a outra. faz tanto sentido pra mim.
voltando às quatro cadeiras e à mesa com original e seis olhos dispersos. havia também uma curiosa combinação ao lado do cardápio com 'we speak english' no rodapé. três revistas postas lado a lado: carta capital quem e umbada abaixo das abóboras que anunciam a comemoração de halloween com direito a convidado ilustre cientista para papear conosco sem termos técnicos i hope so. não sei quem precisa mais de óleo. meu inglês mofado ou meu português descuidado. carente de novas leituras e comprometimento com a língua e as possíveis novas espumas consistentes em guardanapos pb. preciso voltar a desenhar à noite. bíblias deste crescimento doloroso e fértil.
cenouras lisas carnes ensacadas em porções das disposições ainda por vir entre os azulejos caretas deste imóvel de pé direito alto e sala vazia com sacada exposta e convidativa aos pensamentos com tragos trançados ao horizonte. preciso comer e me arrumar para sair. a rua chama meu nome pela janela deste retângulo acomodado e rico. não quero afagar pôr no colo amamentar nem cobrir o silêncio. está tudo tão evidente mais vivo e doce nos meus olhos. pouco tenho a dizer a quem deseja qualquer merda ouvir. poupo os ouvidos alheios e minha boca cúmplice cala a bagunça os sentimentos e os desejos mais serenos desta alma velha neste corpo sedento.
tudo que é claro está dito. negros são os dias dos outros. quem espia de soslaio: fechadura televisão rua hobby. quem casa consigo não olha pro lado não atropela não pára a rua. se manifesta mudo e seguro. vale a pena se presentear. comprometer-se a arrumar a casa seu bem estar amar-se. venho feliz lhe trazer flores imortais coloridas e cheirosas. cada 24 horas constroem o amanhã a partir do presente que hoje pulsa. e como pulsa!


[my morning jacket - wordless chorus]

muito mais

parece que nada muda e tudo sempre gira. tudo muda em carne viva. chega a dar falta de ar.
parece que tudo isso não vai ter fim. que voltei à juventude. que não aconselho mais.
parece que não há mesmo o que dizer. sobre nada. tudo é tão livre possível flexível. tudo é prático. tudo é individual. particular.
parece que o mundo vai para um lado e eu sigo para o outro. dolorido. mutante. para sempre.

parece que estou sozinha. ninguém me entende. ninguém me enxerga. nenhum ouvido aberto.
parece que nem vale a pena dizer. nem sei o quê. por quê? pra quê?
parece que este choro nunca mais vai acabar. que a aflição também não. nem a dor por não saber quem sou.
parece que esta desordem vai se aquietar. que isso tudo é para o melhor chegar. parece que estou arrumando a cama.

também parece que eu não quero ouvir. me sinto exausta só de pensar. sinto que a diversão é o melhor estar. uma noite sobre a outra. meu baralho espetacular.
gosto do tumulto reservado. dos amigos diversos opostos complementares iguais. da rua dos visuais e das formas estáticas movimentos nos degraus. desta estranha tranquilidade na alma. desta confiança sem propósito no caos. dos detalhes e observações.

tudo me parece. nada a declarar. sozinha. vendo tudo se transformar. com muita saudade de mim.


[cazuza - exagerado]

close your eyes

não quero mais viver aqui. quero mudar de lugar londres paris veneza cuba qualquer lugar. o novo. matar a sede acordada. ter com o que ocupar minha atenção. meu foco primário. gente e sensações. minha matéria-prima. aonde quero estar? seja em qualquer lugar. aonde quero estar? como quero continuar a ver. qual norte forte doce. cadê o meu amor? a minha delicadez frágil. a minha bolha inquebrável. cadê quem me vê?
cadê o porquê de viver. cadê você? cadê eu?
eu sei onde estão as cores. nos detalhes. eu percebo. cadê as cores??? eu não vejo mais. não sinto. sei o que é e onde habita. cadê? cadê a dor? não tenho mais porquê. eu desço. querendo voar.

onde ficam os porquês?

Um corpo não ocupa dois lugares ao mesmo tempo.
Fecho os olhos enquanto choro. Abro. A mesma imagem branca, com linhas, madeira, aço, vidro e tinta velha. Fecho os olhos. Abro de novo. Eu ainda estou ali. Me sinto longe daquela cama com trilha. Sozinha. Melancolia sim. Sempre. Alegria é uma camada acima.
Vou morrer, quem sabe, aos 60 anos. Um sobre o outro. Várias depressões. 60 anos. Uma vida, numa realidade suja. Uma vida limitada. De muitas alegrias. De muita angústia. De muitos questionamentos. Uma vida doce. Conexões por um fio transparente e longo. Anos a fio. Interesse incompreendido. Uma vida. Aqui?! Pra onde ir? Qual o objetivo? Existe um por quê? E prossigo com tudo ao redor. Como bolhas de sabão que me seguem. Pessoas, interesse e contexto. Que porra é essa?

terça-feira, julho 29, 2008

já não sei mais como escrever as velhas novidades de todos os tempos

dançaria nua num teatro inquietante de glauber sob o sertão das min[h]as gerais.
ficaria doente na porta de casa observando a rápida chegada da chuva.
inundaria sua casa de flores pequenas sem cartão só para você me ligar.
compraria um bilhete vitalício para fazer terapia na maior montanha russa do mundo.
contaria, por uma noite inteira, as estrelas cadentes na praia da sua janela.
andaria de moto por uma semana de olhos fechados e braços abertos.
flutuaria horas ouvindo música até escorregar pelo arco-íris.
acharia um bilhete premiado no 'pingo de ouro' que garantia o fim de todos os males.
participaria de um vídeo clipe jogando atari com o céu de monitor.
mergulharia num mar de champagne para fotografar os peixinhos bêbados a sorrir e posar, ao seu lado, para mim.

crianças, demônios irmãos que arriscam sem medo, sem conceitos, sem consequência, para descobrir o que vai dar.

crescemos querendo virar anjos. todos de asas brancas pudicas e tortas.
gratuitamente ganhamos regras e mais regras do que é certo ou errado do estar de pé ao deitar-se.
com o passar do tempo enfeitamos, com nossas próprias mãos, as caixinhas mudas de segredos fartos e vergonhosos [ou nem tanto].
como a gente se atrapalha durante a vida em nome 'do bem', 'do bom', 'do certo' do outro.
cutuquem-se! para sermos melhores e donos das nossas vontades mais sinceras.
fé na estrada e pé na culpa católica.
avante diabinhos lúcidos, meus irmãos, filhos da terra do sol.
vamos saciar, com eixo único, particular, esta fome cúmplice de viver.
(odeio comida enlatada)

sonho impossível

versa emoção no ar da minha estada
não tem sal sabão salmão que estrague este paladar

quis trazer para casa meu sonho irresponsável
fiz cópia da chave dos guardados mesmos erros
sem te carregar casei-me

olhar você invadindo o quarto com flores
seu cheiro anunciando a chegada da rua à noite
nascer deitado a seu lado composto feliz

saciar a fome do claro ao escuro
trocar sua roupa molhada entre os azulejos
limpar sua maquiagem desbotada pela madrugada

é o meu amor que me mastiga assim
me dando por satisfeito por poder olhar
alimentar meu sonho mais impossível

me misturar em você e abrir mão de mim
cometer suícidio em estado de graça
e reinventar-me mais eu após cada 'causo' deste coração boêmio

ser loucura ser reflexo

o filme foi uma ótima pedida de última hora [vou abrir uma skol lemon pra experimentar enquanto detalho]. ressalva importante no princípio: o áudio deixou tanto a desejar que seria mais pertinente a legenda em português. a leitura labial foi ineficiente. meu inglês perneta foi meu guia nestes 80 minutos onde a fotografia gritava bem mais do que o silêncio [sabia que paralelos seriam prováveis. diversos].
a personagem da abertura é a personificação do enredo. uma 'figura' loira descabelada divertidíssima perturbada e teatral. num pé havaianas noutro rider a bater lata entre as pedras do caminho entre um chute e outro de distração. a cruz de cada dia nas costas com roupas lavadas em terra batida. água é tudo igual água: suja vermelha de beber roxa pra se lavar preta para regar as plantas do solo de ninguém em teu nome. imagens paradas em movimento. tudo é espelho: rio asfalto a vida rasgada em papel único. um silêncio aflitivo dos retratos. kilometragem farta a 40º nas estradas deste país continente com automóveis a entrar e sair do plano como peixes a saltar entre a maré baixa.
só se ouvia a voz da liberdade. suas lembranças e demônios na bagagem da solidão que pulsa nos rachados pés e pele. a loucura em sua pureza. única. de quem vive só pelo mundo. órfã distante cheia de risos próprios monólogos e a puta que o pariu. diferentemente da loucura que envolve todos nós neste convívio social prisioneiro. um horizonte longínquo das nossas loucuras mais íntimas com repertório vasto mediano. andarilhos de cajado e questionamentos hereditários e culturais em nome do pai do filho e do espírito santo. deus é number one. em qualquer lugar a admirar tudo aquilo criado pelo criador. vaca galinhas pintinhos jato reencarnação e espíritos a consumir valdemar. cachaça é cachaça! outra santidade com altar.
e a noite chega com luzes desfocadas de tempos em tempos. filho de uma égua! cigarro álcool farrapo e farol alto. cada qual com seu fardo circunstâncias casa e lona. só o senhor é deus.
[aposto que alguns dos poucos ali presentes acharam o filme chato. diria que estes são acelerados demais para navegar neste mar de terra quente abençoada a passar. faça chuva faça sol. avante]


[chico buarque - tanto mar]

*crítica do filme "Andarilho" de Cão Guimarães, escrita em 9 de outubro de 2006.

:::
tem uma cena 'viagem' no filme que, a meu ver, deveria ser cortada, mas não foi [rs]. sei lá quantos ácidos ou maconha consumiram. mas aquele grilo ultrapassou a licença poética. vontade de encontrar o diretor e perguntar [rs]. antes que eu me esqueça: a skol lemon deve ser melhor para fazer caipirinha de cerveja. e cachaça é cachaça. amém!
:::

o deus

eu quero amar sem exaustão
eu quero amar sem sim nem não
eu quero amar conjugar ressonar
eu quero ecos compostos múltiplos

eternizar
transpiração

quero me mover como um deus
que anda no anonimato levando uma multidão

sou corpoamor
tempoenamorado
estadosólido
pé no chão

vocabulário espanhol

pegar = brigar
quedar = ficar
tumbar = deitar [feio demais!]
nadie = ninguém
comer = almoçar y cenar = jantar
regalo = presente [!]
copa = taça y taza = xícara
cubiertos = talheres [nunca lembro!]
calcetines = meias y bragas/bombacha = calcinha
borracha = bêbada
ganas = vontade

não me 'liga' porque você eu atendo.

vida a dois

tatuaria os melhores momentos da minha vida ao lado dos teus como registro do quanto somos felizes individualmente juntos

28 de setembro de 2006

quero viver de escrita
continuar a ser louca
com as contas pagas
e viagens marcadas

prece

o que queres sem querer já não quero mais.
o que queres com temor não me fere mais.
o que queres por prazer já não me dói mais.
o que queres por querer eu nem quero mais.
o que queres para você não me come mais.
o que queres esconder não insisto mais.
o que queres sem saber eu sei.

hoje eu quero amar você.
amanhã...o que se há de fazer?


[tv on the radio – wolf like me]

conselho de amor

meu amor pulou a janela e me levou pra passear
me deu um papel-convite azul pra vida
que dizia assim:

"derrama este leite apertado do sentido
alimente a bondade do amor incontestável
assuma que ainda pulsa
a mesma idéia encorpada

mesmo com esta dor insuportável
não se esqueça que este amor é só seu
o dela saiu pela porta da frente
e nunca mais voltou"

welcome

na minha presença
olhares tortos não acham o alvo
pode chegar que a casa é sua
venha como preferir
aberto, dócil, animado, mascarado, perdido, vazio
a roupa é sua, se vista como quiser
mas se comporta na minha estada
porque ando sem paciência para a dúvida
vacilou eu abro a porta
ou jogo pela janela

sinos

e fostes o recomeço de um enredo sem fôlego
aceno fértil e ágil
de um tempo virgem paralelo
conhecer-te ao clarear

estabeleceu-se sol
verão entre as pernas
com asas arrebatadoras
movendo ventos a invadir e fugir

alegrei-me ainda verde
sob a fantasiada anestesia
dessa introdução impulsionada,
e contida, querida

temos duas meninas
convidativas e sonoras
outrora pós-querra, outrora senhoras
a tragar, sem pausa, o desejo

eu

se me caço, acho, desato, construo e reconheço
se adentro, me faço, Safo e escapo
se assumo, sumo no compasso do começo
se me largo, traço, linha e sentimento

às vezes. quero

às vezes falo mais do que deveria
me exponho demais
deixo seus olhares atravessarem minha alma
enxergar tudo o que há em mim

às vezes sofro e faço sofrer
sem querer
digo coisas que nem sei dizer
me boicoto me escondo

às vezes desejo e corro
noutras corro pelo meus desejos
às vezes te vejo vindo
noutras se distanciando

às vezes me dá vontade de fugir
sumir gritar
fazer tudo desaparecer
às vezes, de nada adianta

resolvi deixar assim
às vezes carinhosa e perto
às vezes longe e sua

resolvi não entender
embora saiba bem
que tanto querer me assusta
me alegra me alimenta

a intenção é sempre a mesma
às vezes, mesmo sem querer
te quero

então venha...
invada os espaços
preencha meus segundos
com sorrisos, silhueta instigante e olhares confusos

pode vir com medo
traga tudo
aceito seu passado
aceito suas dúvidas

vem correr perigo
vem ver o que às vezes quero te mostrar
eu só quero você


*este tem mais de 5 anos

eu me amo

será que a propaganda que cada um faz de si é realmente eficaz? eu estava conversando sobre isso com umas amigas queridas pensadoras e chegamos a conclusão que a síndrome da 'máscara gruda' pode acontecer a qualquer momento com qualquer um. dio que me livre! e olha que já passei raspando. a proposta é tão tentadora! é todo mundo lindo feliz de bem com a vida bem vestido animado se joga se acha estão sempre nos melhores lugares com companhias descoladíssimas. se entendem e pouco se fala.
ser ou não ser.
seja lá o que for como for na cor que for no estado líquido sólido ploc ploc que for as escolhas são e serão sempre respeitadas. mas a desconfiança é digna de respeito neste caso. pelo menos a quem se dá ao trabalho de se sentir melhor sendo a porra que tiver de ser. antes assim. honesto e não-traiçoeiro. dói muito tentar caminhar entre os holofotes do olhar alheio. desgaste sem referência autobiográfica. identidade rasurada e descrédito.
concordo que todos somos as personagens que queremos ser em determinados momentos da vida. cada um se aplica onde quer com parcimônia. ou não. o filósofo já dizia: "se existe mais de uma explicação para uma dada observação, devemos adotar aquela mais simples". tão simples a gente ser o que é. para algumas pessoas não. é muito mais fácil cômodo e solitário o caminho do gosto dos outros. é involuntário. basta respirar e reagir. eu não gosto de grupos guetos frentes liberais feminismo exacerbado nem do bom gosto de terceiros. eu gosto de gente que é o que é.
difícil ter um gosto deste num mundo 'vendável' como o nosso onde tudo tem uma gaveta um rótulo se encaixa assimila e é. pronto. já é. você é.
eu vou dormir agora porque amanhã tenho exame às 8h. nos últimos tempos parece que a crise dos 30 veio acompanhada de um check up geral. nunca fui a tantos médicos e fazer tantos exames em um espaço de tempo tão curto e outros mais gritantes ainda me aguardam em alguma sala de espera com rádio ligado em clássicos juvenis dramáticos. o meu amor há de me salvar de mim mesma. último cigarro antes do horizonte onde nasço e morro todos os dias na satisfatória companhia de mim mesma.

novos horizontes

preguiça. de gente. das pessoas na balada. das propostas que não me atraem. deste meu vício, ou melhor, desta insistência em continuar a cometer suicídio. destes sentimentos que não consigo controlar. da falta de atenção aos que são merecedores. do mega valor às coisas irrelevantes. dos conceitos tortos daqueles que dançam na vida. da cara de pau política e todas as suas armações em terno engomado e discurso reto. da ausência que aquela menina me faz. do que penso em dizer e não digo. das músicas do franz ferdinand. da indiferença forjada dos corações vazios dispostos na moda. de perder meu tempo online. desta dislexia no exercício do pão e na simbologia do que se foi.
de mim mesma. da vida maravilhosa que tenho e não consigo administrar. do amor que ciranda meus dias e noites e o pouco que sorrio por isso. deste estado mórbido taurino teimoso onde resolvi fazer minha casa [anos atrás]. da falta de mudança radical nos olhares para a verdadeira beleza que há em mim e em minha vida. deste clima cinza que se instalou na minha cama há dias oscilantes e desnecessários. dos desejos que já nascem mortos. dos abortos dos amores realmente possíveis. desta solteirice atrelada ao nó na garganta fácil de soltar ainda preso. das escolhas brancas vivas que tenho nas mãos e temo por não fazê-las. desta crise dos trinta que desconstruiu tudo e vai me salvar. de tudo de melhor que está por vir e não chega. desta ansiedade que me consome para me conhecer de novo e me dá esperança. da saudade dos momentos belíssimos que ainda não vivi. dos sonhos coloridos e dóceis que tenho sábado à tarde e acordei.

cansei do mais do mesmo. novos takes do meu all star preto pelas avenidas sanguíneas destas veias latentes por suaves novidades quentes. eu sou mais feliz hoje. mesmo assim.


[she wants revenge - out of control]

f r e e d o m

moleza dor de cabeça ressaca de cigarro resta um misto quente suco artificial engov neosaldina salto alto all stal livros lápis preto poker havaianas água bala maçã verde jeans incenso cerveja de garrafa latinhas pratos som ligado dia claro beck. mais uma balzaca na terra. domingo. e muito mais beijinhos. larica e cachaça. brinde à primeira e próspera idade.
ainda existe uma confusão inquietante. a busca da pureza no outro em cor pb de um projeto de vida. nata idéia com indícios de redenção. talvez depois. sem perder o foco podendo modificar o destino. pouco importa sem parar. ainda há um vulcão em mim. prestes a explodir confiança. é a busca interminável mutante da mesma essência. as facetas múltiplas de todas as descobertas deste fluxo que me agita os olhos e não me deixa dormir. abstrato. calado. perceptível em marcas. feitas. minhas. homus sapiens n'ação. o melhor momento está por vir. hoje é princípio. hoje é domingo.
carinho aconchegante em são paulo. slogans assinados ecoam de bocas amadas. muitos amigos distintos e propostas com referências datadas. tudo disposto nas montanhas das minhas verdes geraes de pernas finaslongas além do que se vê. asfalto estourado com sol posto mar. uma duas três quatro cinco...não se dorme mais nesta estrada onde os sonhos voam velozes na pintura que imaginei acima das espaçadas linhas amarelas iguais. meu tapete vermelho em 1,72m. máquina do tempo sem peso. minha relatividade. envolta no barulhinho bom do vinil. agulha suja dos 15 anos: pura nostalgia doce. looping! looping...looping. vôo solitário sem medo. de ponta. braços abertos mergulhados no nada das borboletas louquinhas alucinadas pelos segundos a contar e reproduzir sem fim o céu de anfetamina em lilásvermelhoroxoazulmarinhoceleste. milhares de rpm. rodopiando. estampando arte neste dia vasto e calmo onde minha sorte me desenha exposta nestas companhias e circunstâncias. florais. bucólico. êxtase ao ar. livre.


[nathan fake - long sunny]

segunda-feira, julho 28, 2008

on repeat

onde paramos? da utopia nasce a revolução. isso mesmo. gosto do gosto disso. do provável incidente benéfico. das histórias que se tornam estórias. do imaginário queimando tatuagem na carcaça viva ganha de bilhões. dos dias úteis que virão para meus filhos teus nossos irmãos. sonhos antigos novos na praça parceiros vendo a graça de mais um pôr do sol lado a lado. antes fosse Arpoador.

posso cometer um crime? é um eterno on repeat matemático de sensações e situações comuns. crime no passado com linhas frescas: só publico o que me liberta. gostei da idéia.

todos refletem. a antropologia é uma festa! aplausos intermináveis agudos às diferenças à originalidade que ensurdecem os desavisados atuantes deste palco vendido. por que matamos a melhor parte de nós? minha identidade é um suspiro 3x4 com passos largos e rápidos virando dias e noites. álbum nômade com escolha sem raiz forte. ouvido curioso requintado desde sempre mal acostumado. olhos famintos. boca que cala come ama fala assenta sob espaços brancos finos barulhentos ao vento lambuzados pela sopa de letrinhas com tempero mineiro apimentado: especialidade da casa.

a nostalgia é doce. todo poeta é um nostálgico.

a dúvida só não existe na utopia que deverás é. da utopia nasce a revolução. on repeat my lovers. longa estrada sem retrovisor. tá tudo no meu nome. cutuca!

ps: cometi. no plural. preciso do que mais abomino: um advogado. meio cheio ou meio vazio? mais uma dose. sempre a fim. de viver


[the go! team - ladyflash]

casa vazia

queimo como deve ter sido. o século XX um dia depois do XIX. "pais, fizeram a minha desgraça e a de vocês" diria o maior pintor das vogais. mas existem tantas guerras, sangue seco, sacrilégios, lei humana, nobres ambições, salvação, mistérios, crueldades, fraqueza, ingenuidade e tantos outras alegorias inerentes à escravidão do batismo que o tempo todo vira um dia cheio. algumas horas que emanam luz neste angustiante distanciamento desproposital, sem hereditariedade, de nascença. como mais um prisioneiro da própria loucura e lucidez. filha do sol com o inferno no peito deito minha angústia na festa dos querubins apáticossábios desta terra [em nome de Deus], sem culpa aos meus.
para aqui vir não pedirei desculpa ao poeta pela nata ignorância em partilhá-lo por tão pouco. a mim não cabe nenhuma audácia. essa já houve no outro. mais lúcido e inquieto do que eu. nada aqui é novo [inclusive para mim]. apenas o desabafo, este sim, é meu. desde o fervor à calmaria anunciada. mas de qual eu destes tantos que há em mim? todas as corestraços opacasfortesfrágeisvibrantes se namoram na suportável velocidade utópica deste encontro sem asas, que me divido em dois, complementares, bipolares, doentes e sanos, acelerados pela máquina do tempo à esta ordinária modernidade sem volta ["a eternidade é o mar ao sol"]...ritmada no compasso irmão de A&E, do goldfrapp, com uma reprodução assustadora da risada abusada do meu pai, seguida de uma distorção corriqueira, garimpando mais familiaridade e retrocesso em poucos segundos como os flashes da minha mundana vida recorrentes pelo retrovisor.
por opção em vida neste inferno me reinventei. naturalmente, antes, obrigatoriamente agora em reticências para saudar a beleza. é preciso improvisar aos céus para acalmar os demônios! só encontro paz no som e na poesia da dança viva da fumaça. todo o resto é boa vontade, amor e temperamento. das primaveras ao fim, sempre assim. a queimar e rir. sem a benção da compreensão.

pulse

são duas da manhã e eu iria dormir, mas resolvi escrever um texto sobre minha família. estava ouvindo uns cds que um amigo gringo me enviou recheado de musiquinhas novas. sou alucinado por pães quentinhos.
fascinante como a escolha de uma música para servir de trilha à inspiração muda completamente o contexto imaginário sensorial. "tonight i have to leave it", de shout out louds, não tem nem uma batida a ver com a idéia inicial. mesmo que eu fique a detalhar cenas em tempo avançado [4x ou 8x] dos corriqueiros acontecimentos mágicotrágicos desta rotina de mesmo sobrenome. viraria um entra e sai de copos, cartas de baralho, bebidinhas, portas abrindo e fechando, gente indo e vindo com propósito das 11h até o entardecer, meu pai no sofá - estático com a tv ligada [rabiscos visuais que não me agradam] -, um telefone frenético com o qual me desacostumei, muita luz e ventiladores perdidos no tempo. não consigo ver a sutileza poética de outrora intenta a escrever com esta melodia no repeat.
a começar pelo título ela combinaria mais com o desfecho de um amor frustado. com a constatação inevitável de que erramos enquanto nos amamos. de que as diferenças aqui não acrescentam, afastam. todos os conceitos e valores vasculhados depois do choro clichê longo e inevitável da se pa ra ção. é uma cena triste de se ver. e de sentir. mas que, certamente, tem mais a ver com esta melodia pulsante de quem tem que recomeçar pelo fim com o primeiro plano numa lixeira dilacerada pelas mãos da dor de amor. impiedosa crueldade. típica dos mais conservadores, como no meu caso. um moderno inquieto, exigente e só.
mas também não é o caso. já cantei tantos versos para esta ilusão que agora não é a hora deste refrão.
nesta versão de kleerup tem um 'barulhinho' [adoro barulhinhos e não sei da onde veio este flerte apaixonado] que me leva ao finalzinho dos anos 80. Coisa do tipo 12 anos, ou seriam 90's? hoje, tanto faz. mas me lembra uma época sem recalque. livre e raso de opções. satisfeito com muito pouco, dias simples, despreocupados, alegres, ingênuos e curiosos. mais intrigante ainda é me ver agora. livre, ainda ingênuo, atento à rica simplicidade, alegre, curioso mais editado e uma porrada de coisinhas insuportáveis que preciso jogar em uma outra lixeira. estas neuroses que só o tempo é capaz de te presentear e com todo o direto de quem concede, só ele pode pegar de volta [nestes termos, as pessoas se parecem com o tempo nos términos. ao menos algumas delas. por sorte, outras ganham dele]. concluo que a melhor coisa a fazer é amizade. portanto, esta música também não serve para divagarmos sobre meu amigo. o que me sobra neste pretexto às duas e meia?
bem, sempre temos algumas opções. uma pista bem ilumidada com copo cheio, olhos fechados e música boa; ou a música boa no carro com garoa, sem pressa, pra imaginar sem papel; um conto de anais nin seguido de um sms; a cama e os travesseiros sempre dispostos; sexo fácil de amigos ou dormir de conchinha simplesmente; começar tudo de novo; tomar um banho frio; ver um filme de claude lelouch; apagar isso que escrevi; ou apenas um boa noite.tonight i have to leave it. just like that.

tchau passado, hi future!

tem sonhos que já não quero mais
tem amores que não quero mais
tem escolhas que não quero mais
tem caminhos que não quero mais
tem idéias que não quero mais
tem desejos que não quero mais
tem monstros que criei e vou abandonar

tenho uma vida nova pela frente
tenho nos olhares pra assimilar
tenho outras vontades pra descobrir
tenho novos diferentes amores pra viver
tenho futuros amigos pra conquistar
tenho novas alegrias pra experimentar
tenho novas conquistas pra realizar
tenho novos lugares e energias pra me acompanhar
tenho muito carinho e aprendizado pra me presentear
tenho novas sensações pra me surpreender
tenho outros pensamentos para cultivar
tenho novos comprometimentos pra comentar
tenho novos desafios pra pensar
tenho uma nova realidade pra sonhar

ventura

não tenho mais nenhuma lágrima para derramar sob o pranto colorido desejável do ontem
cheguei sem saber ao certo onde com tudo no meu nome sem débitos falsas promessas ou mentiras
conquistei o que já era meu por direito e mérito depois de anos vislumbrando mudanças repentinas reais
com uma mochila nas costas tracei meu mapa da vida com coragem determinação e garra hereditária
não tem frio na barriga que segure a divina sensação do que está por vir depois da última escolha
um fuso horário latente de cenas culturais costumes e detalhes interessantes que farão a minha diferença
comida saudável da melhor qualidade para um coração aberto ao novo e os olhos sedentos por alegrias
brilha minha estrela na constelação perdida daquele documento presente que uma infinidade de anos jamais trará
brilha agora das entranhas da gerais ao eco do velho mundo desnudo pela sede da minha ousadia
tempero mineiro regado a tragos risadas silêncio melancolia amigos e amores num gole rente doce e seco engarrafado na mala

não há quem amarre uma alma liberta no espaço e no tempo que não mora mais aqui porque sonoramente voa
ao encontro dos teus...


[placebo - because i want you]

vem aqui. agora!

não crie sonhos para mim. não me desejes. não queira rasgar minha roupa me descabelar borrar meu baton parar o ar. não não não! não se aproxima.
nem mais um segundo laço deste compasso. não traz este cheiro fácil para dentro de mim. e não me olha com esta cara santaperversarodriguiana. não me desconcentra! não quero champagne. saí daqui!!!
libere minhas curvas sem patente. não se alimente em mim. afasta esta intenção febril do meu colo pescoço seios coxas queixo. acende a luz!
afasta esta luxúria fixa da minha pele atenta. esqueça! apague a cama e o gosto dos toques plurais. não me faça roteirizar e gozar. não não não. vá embora!
não...
não...
não...
não me convença a fechar os olhos


[suede - beautiful ones]

mar febril

se continuar a refletir calor entre seus lábios
ombros provocantes sussurrando letras suadas
a falar assim, teatralmente, girando desejos

entre um gole e outro e
eu aqui atrás do passo
na secura da emoção posso vir
a te seduzir com sede

pelo ato contato estado casto
me faz falta ao coração
emocionar-me em vida veraneio
sem leque sem se nem não

se não houvesse o atlântico
copos e cinzas extremos postos
haveria chão...mar febril


*para ela que já leu anos atrás

canto para alceu

Contemplo o novo vendaval das manhãs, como sempre
com tempo, outro, sussurra nas horas
longe dos verdes laços
estado sem teu olhar

Ninguém pode velar meu céu, Alceu
se me envolve bela em melodia triste
aceito o convite charmoso da dança
girando te conto o segredo

Deito sim sozinha, acompanhada
de estrelas cadentes, pedidos todos feitos
sem mangas compridas, adormeço
tenho mais braços para mim


*saudade de você guru

"Totalmente Kubrick"

"todo mundo que está no topo, só entra por baixo"

- ui!

cegueira

minha mente inquietante e dispersiva alimenta o olhar e me afasta de quem não sabe me ver. eu quase não existo. você não vai perceber.

rg

me sinto sozinha. olhei a agenda telefônica, a lista do msn. nada. ninguém. me sinto só.
sem amigos. embora os tenha. me sinto só.
me sinto só nas vontades, nas idéias e em algo mais.
não quero qualquer coisa. e não tenho companhia para as minhas vontades. não existe parceria aqui. me sinto só.
é sexta e eu aqui. escrevendo sobre esta necessidade de uma amiga. colorida ou não. de vontade semelhante. ou vontade a favor se colororido for. ou tiver de ser. me sinto só.

adeus

cata-vento brincando de roda
desde ontem, sem conter o desejo
fez segredos num segundo

poucos cigarros e beijos rasgados
eterna vontade a seu favor minha
último ato por hora já é saudade

atrás do tempo atrás do silêncio
ciranda no parque das paixões
acordo triste atrás do princípio

[michel polnareff – love me, please, love me]

deck e mar

pela manhã se acalma com o movimento do vento. sopra tão levemente que o sol pousa sem dor. enquanto no outono eu contava lágrimas, hoje faz verão na minha terra enamorada. canto aos cantos aos horizontes nas geraes paulistinhas que a vida é doce.
o amor gera grita sente saudade beija fica quietinho. sem dor. só perde o tom quando você chega sem avisar. pela boca solta ecoam novelas sobre você. te vejo bela acompanhada pensando em mim. tentando esconder a fruta que deixei em ti. devorando aos poucos, avesso da desejada podridão. mas com o amor não... ele gosta de circular. deixe-o passear entre seus rins. há de sorrir por mim.

da cadeira vejo o sol sair com uma cara parecida com a minha. reluzente. magia da alegria de quem ama sem duvidar.


[ouvindo o barulho do mar do oitavo andar]

sonho e fato

sonho estranho com meu pai e meu irmão. sonho estranho no interior no alto barranco vendo um amigo morrer e não poder ajudar. sonho estranho se perceber a mercê do querer negro do outro amado de olhos vendados.
fato: o natal é uma das épocas onde mais pessoas tentam suicídio. só perde para o dia dos namorados.

na haddock lobo

um senhor um cara estranho me mirando enquanto caminhava entre os carros e as cadeiras na calçada. ele observava de peito fechado...
um trago longo com bolsa ligada em outras viagens até o embarque desta atrás do espelho da curiosidade. ouvidos conectados em madeira simples. apoio para cinzeiro sujo celular silencioso codimentos comidinhas guardanapos cerveja extra tulipa. parada atrás dos olhos do reflexo sentindo estática o movimento daquele que parece questionar tão de perto que me tira o foco e convida os sentidos. uma mulher ali.

volupiar

i want to multiply. até os dentes.
aquela a outra a do lado atrás daquela também. todas as bocas carinhos colos conchinhas e eticeteras. realizar. ir e vir. aqui e lá. qualquer lugar. meninos e meninas degustar sem palavrear. ouvir o barulho da chuva e do mar. amanhecer na diagonal justa das peles leves quentes claras morenas negras amarelas fáceis de sentir.
três. verbos. fumar olhar estar. embaraçar meu êxtase no gosto dos outros. eu quero. deixar meu corpo extrapolar a vontade única. atravessar a faixa fixa do desejo singular. matar minha crença na luxúria. volúpia.

amanhã

hoje acordei chorando
vi um caminho bom
tinha meu nome neste término de amor
mesmo sem querer eu
mais um tempo eterno
o mistério dos segundos fa[r]tos
meu palco imaginário
escolhas do ator
num passo renasço laço colo abraço
o sonho me ninou descoloriu a dor
alvorada recriada vermelhos olhos secos
inundei a cama de amor