segunda-feira, julho 28, 2008

pulse

são duas da manhã e eu iria dormir, mas resolvi escrever um texto sobre minha família. estava ouvindo uns cds que um amigo gringo me enviou recheado de musiquinhas novas. sou alucinado por pães quentinhos.
fascinante como a escolha de uma música para servir de trilha à inspiração muda completamente o contexto imaginário sensorial. "tonight i have to leave it", de shout out louds, não tem nem uma batida a ver com a idéia inicial. mesmo que eu fique a detalhar cenas em tempo avançado [4x ou 8x] dos corriqueiros acontecimentos mágicotrágicos desta rotina de mesmo sobrenome. viraria um entra e sai de copos, cartas de baralho, bebidinhas, portas abrindo e fechando, gente indo e vindo com propósito das 11h até o entardecer, meu pai no sofá - estático com a tv ligada [rabiscos visuais que não me agradam] -, um telefone frenético com o qual me desacostumei, muita luz e ventiladores perdidos no tempo. não consigo ver a sutileza poética de outrora intenta a escrever com esta melodia no repeat.
a começar pelo título ela combinaria mais com o desfecho de um amor frustado. com a constatação inevitável de que erramos enquanto nos amamos. de que as diferenças aqui não acrescentam, afastam. todos os conceitos e valores vasculhados depois do choro clichê longo e inevitável da se pa ra ção. é uma cena triste de se ver. e de sentir. mas que, certamente, tem mais a ver com esta melodia pulsante de quem tem que recomeçar pelo fim com o primeiro plano numa lixeira dilacerada pelas mãos da dor de amor. impiedosa crueldade. típica dos mais conservadores, como no meu caso. um moderno inquieto, exigente e só.
mas também não é o caso. já cantei tantos versos para esta ilusão que agora não é a hora deste refrão.
nesta versão de kleerup tem um 'barulhinho' [adoro barulhinhos e não sei da onde veio este flerte apaixonado] que me leva ao finalzinho dos anos 80. Coisa do tipo 12 anos, ou seriam 90's? hoje, tanto faz. mas me lembra uma época sem recalque. livre e raso de opções. satisfeito com muito pouco, dias simples, despreocupados, alegres, ingênuos e curiosos. mais intrigante ainda é me ver agora. livre, ainda ingênuo, atento à rica simplicidade, alegre, curioso mais editado e uma porrada de coisinhas insuportáveis que preciso jogar em uma outra lixeira. estas neuroses que só o tempo é capaz de te presentear e com todo o direto de quem concede, só ele pode pegar de volta [nestes termos, as pessoas se parecem com o tempo nos términos. ao menos algumas delas. por sorte, outras ganham dele]. concluo que a melhor coisa a fazer é amizade. portanto, esta música também não serve para divagarmos sobre meu amigo. o que me sobra neste pretexto às duas e meia?
bem, sempre temos algumas opções. uma pista bem ilumidada com copo cheio, olhos fechados e música boa; ou a música boa no carro com garoa, sem pressa, pra imaginar sem papel; um conto de anais nin seguido de um sms; a cama e os travesseiros sempre dispostos; sexo fácil de amigos ou dormir de conchinha simplesmente; começar tudo de novo; tomar um banho frio; ver um filme de claude lelouch; apagar isso que escrevi; ou apenas um boa noite.tonight i have to leave it. just like that.

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