quarta-feira, agosto 06, 2008

varandear

não queria começar assim, mas fazer o quê? assim foi.
sentada na varanda da minha passageira casa em eixample, numa poltrona roja da década de sessenta, ao lado do meu banquinho posto cinzeiro, cigarros, isqueiro, celular e copo baixo cheio, mirando a paleta de cores azuis em movimento acima do pátio do colégio, das varandas alheias, umas poucas acessas, e um barulho remoto de taças a subir de algum bar, de algum bar, abajo.
eu aqui. consumi quase meia garrafa de whisky pensando na vida. solidão? também. mas vai além.

casualmente resolvi ouvir vanessa da mata. talvez porque busquei no deezer.com e não achei muita coisa. na verdade, praticamente nada da mata. aliás, o lastfm.com está um pouco melhor. embora eu acabe sempre postando sons [que para mim] são antigos, nesse encontrei the do, banda franco-finlandesa, que um site brasileiro afirmou ser a mistura de pj harvey com regina spektor. fui escutar, claro. não estou de acordo mas vale a pena ouvir at last pela manhã. gostei mais dos artistas similares.

atrás, no quarto, uma observação. a televisão espanhola é tão aburrida quanto a brasileira. nosso produto de exportação, as novelas, gostem ou não, estão, realmente, muito bem. está certo que no final, como diria daniel filho - por quem não tenho muita simpatia, mas que sabe, como ninguém, tudo sobre televisão -, novela é uma só. janete clair, em outro patamar, que o diga. aqui o que mais se vê são os asquerosos programas de fofocas e muitos concursos para levar uma graninha extra. tem de todos os tipos, entre parejas, de músicas, por um milhão e, entre tantos, um sobre a língua espanhola - com um apresentador super carismático que chega a ficar mais guapo por ser simpático. eu adoro gente de boa onda. fato. e este programa, confesso, via, para avaliar como estava meu espanhol.

de volta, daqui, com os pés cruzados na grade cinza trabalhada, vejo a ponta de uma igreja que ainda não visitei. na verdade não devo ir, a exceção da sagrada família que quero conhecer por dentro. como vou mudar de piso - de novo! -, vou viver muito perto dessa filha de gaudí, que continua em obras há quase 100 anos, com dezenas de arquitetos e engenheiros dando uma outra roupagem ao projeto finalizado, em detalhes, pelo artista, que, ali, morreu acidentalmente. é gritante a diferença do que foi e do que continua a vir.

casa nova, vida nova. meu novo clichê com duas espanholas guapíssimas que me abraçaram [merci!]. e um amigo de sampa que chegará em setembro com unas ganas por descubrir barcelona que yo echo de menos ese tio! a ver!
não estou tão só quanto parece.
sem amores fixos, sem endereços plurais, sem beijos de boa noite. começo da nova vida indie, que sempre quis, por aqui. por ali e acolá.

"aprendiz de tudo, maestro de nada". feliz na sacada, até o último gole, com vanessa e uma cama toda preta pronta.
sonhos e amanhecer. a lentidão da mudança, na cadência da cidade, do ritmo novo do outro, no traçado exposto de tudo aquilo que há de me levar para além de qualquer olhar. meu retrovisor futuro de estórias. contemplAÇÃO. nas varandas desta vida nômade minha de saídas, idas e vindas, visitas, amores, amigos e horizontes. pra frente é que se anda.

ps: me encantam as varandas! dizem tanto. pena que no brasil não temos esta possibilidade de olhar. católicas onze badaladas. desliga essa tv, caralho!


[vanessa da mata - não chore homem]